CURIOSIDADES
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Como proteger os animais dos fogos de artifício?

Wilson Grassi - Médico veterinário. Existe um vínculo claro entre fogos de artifício e guerras. Comemorar estourando bombas invoca e homenageia o lado mais belicoso do ser humano. Não consigo lembrar algo que se pareça mais com tiros, bombas e artilharia pesada que os usuais fogos de fim de ano, festas juninas e finais de campeonato. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 6 mil pessoas já foram internadas nos últimos dez anos no Brasil, com queimaduras provocadas por estes artefatos. Mais de 120 delas morreram. Quem não morreu se queimou, se amputou, perdeu a visão ou a audição. Cerca de 40% das vítimas são crianças. E se as pessoas sofrem, imaginem os animais. Começando pelos pássaros, que são muito sensíveis ao estresse. Luzes e sons altos podem levá-los a morte. Vários relatos dão conta de pássaros caídos das árvores após fogos de artifício, mortos ou atordoados. Há notícias de 5 mil pássaros mortos no Arkansas (EUA) após um evento. No Brasil, uma testemunha descreveu um tapete verde, formado de periquitos caídos, após uma festa religiosa no Pará. Crises de pânico. Já os cães, nossos companheiros mais próximos, sofrem surtos de pânico. Possuidores de audição bem mais sensível que a nossa, provavelmente percebem os estouros das bombas e rojões com mais intensidade do que os humanos. Os acidentes são incontáveis, e infelizmente a medicina veterinária não tem ainda estatísticas das ocorrências. Porém, as mais comuns são os cães tentarem abocanhar bombas antes de elas explodirem, como aconteceu recentemente com a cadelinha que a mídia noticiou, que além dos ferimentos perdeu a audição. Eu já atendi muitos casos parecidos. Outro acidente comum que os fogos causam aos cães são os ferimentos cortantes. Ao entrarem em pânico tentam pular janelas, quebram vidraças e se machucam em lanças de portões. Os resultados não precisam ser descritos e os plantões de final de ano nas clínicas veterinárias 24horas, como a minha, são bastante movimentados. Os gatos normalmente se escondem, se estressam bastante também, mas se machucam bem menos. Florais e calmantes. Para diminuir o sofrimento dos cães nestas situações, pouco pode ser feito. Nos animais com a crise de pânico intensa, o uso de calmantes pode ser considerado. Porém, só podem ser receitados após um exame cuidadoso, para estabelecer a segurança do uso dos medicamentos. Outro inconveniente é que em geral a duração da sedação é de cerca de 2 horas, e em alguns eventos a queima de fogos é bem mais longa do que isso. Homeopatia e florais são relatados com frequência, mas não tenho conhecimento nem experiência para confirmar se há resultado na diminuição das crises de pânico. Porém, tenho experiência para dar uma orientação importante, sobre o melhor que você pode fazer pelo seu animal nos dias em que acontecem as queimas de fogos de artifício: fique perto dele. Fique em casa. Não o deixe sozinho. Você não poderá evitar o estresse ou o pânico, mas poderá evitar diversos acidentes e os que não puder evitar, poderá ao menos socorrer rápido, o que pode fazer muita diferença. Fora isso, resta torcer para que a nossa sociedade entenda que a busca pela paz implica em algo mais que apenas um discurso. Implica na prática da paz. Isso se quisermos que o objetivo seja alcançado e não seja apenas um discurso vazio.